A respiração é a primeira função desenvolvida no nascimento, função vital do organismo. O seu desequilíbrio pode causar alterações em diversos órgãos e sistemas. Somente as cavidades nasais possuem condições perfeitas para filtrar partículas e microorganismos do ar e fazer com que ele chegue aos pulmões na temperatura ideal, favorecendo o organismo com uma excelente oxigenação.
A respiração nasal é primordial para que haja um correto crescimento e desenvolvimento do complexo crânio-facial. Pesquisas indicam que a causa mais comum e mais complexa de desvios do crescimento facial está relacionada a interferências na respiração nasal.
A criança que recebe aleitamento natural e não mamadeiras com leite alternativo, sobretudo nos primeiros meses de vida, têm maiores possibilidades de ser um respirador predominantemente nasal durante a vida. Existe uma corrente de pesquisadores que acredita que o leite de vaca, utilizado como aleitamento alternativo, aumenta a gravidade e a freqüência de quadros alérgicos, contribuindo para a mudança no padrão respiratório da criança recém-nascida.
A impossibilidade de respirar pelo nariz, leva a criança a desenvolver uma respiração bucal, o que pode gerar efeitos adversos no crescimento, no desenvolvimento facial e no posicionamento dentário. Isso porque o desenvolvimento ósseo se encontra em estreita relação com uma adequada função. Qualquer modificação na função altera o equilíbrio, levando aos desvios e como conseqüência temos as deformidades.
A criança também apresenta distúrbios de comportamento devido à falta de uma oxigenação do cérebro adequada.
As causas mais comuns que levam as crianças a desenvolverem a respiração bucal são: hipertrofia de adenóides (aumento no tamanho das adenóides), hipertrofia de amígdalas (aumento no tamanho das amígadalas), desvio de septo, que pode ser provocado por traumas, acidentes domésticos ou durante o parto, .corpos estranhos (são objetos que a criança coloca no nariz, como caroços de feijão, arroz, bolinhas de gude, tampas de caneta, peças pequenas de brinquedos, etc...), e, pólipos ou tumores que podem ser benignos ou malignos, trazendo obstrução nasal muitas vezes de um lado só da narina.
O Respirador bucal começa a apresentar características faciais e corporais típicas como desenvolvimento assimétrico dos músculos, dos ossos do nariz, lábios e bochechas, provocando efeitos na face. O nariz fica estreito e curto (por falta de uso), as bochechas pálidas e baixas, lábio inferior curto, mandíbula posicionada para trás e pouco desenvolvida. A alteração da musculatura da face pode influenciar na posição e forma dos arcos dentários. Os dentes ficam voltados para frente, palato ogival (céu da boca alto e profundo), a criança tem dificuldades para mastigar e engolir alimentos duros (não se alimenta corretamente), atresia da arcada superior (a boca fica pequena), podendo causar a mordida cruzada superior.
Sua postura corporal fica seriamente comprometida, ao respirar pela boca, pois a criança leva o pescoço para frente, os ombros são curvados comprimindo o tórax e o peito fica afundado; os músculos abdominais ficam flácidos e os braços e pernas assumem um padrão para dar sustentação a toda essa musculatura alterada. Toda essa alteração muscular faz com que a respiração seja rápida e curta, a criança apresenta um cansaço constante a qualquer tipo de brincadeiras ou atividades físicas.
Os respiradores bucais, geralmente são inquietos, impacientes, ansiosos, medrosos e impulsivos e apresentam uma irritação constante. À noite quase nunca querem ir para cama, apesar de estarem dormindo em frente da televisão. Pela manhã, muito cansados devido a pesadelos e dificuldades respiratórias, não querem sair da cama para estudar, trabalhar ou ir para a escola. Na escola tem muito sono, não consegue prestar atenção nas aulas e está sempre cansado e deprimido. O perfil das crianças respiradoras bucais mostra fragilidade de personalidade que repercute na escola e na família.
Apresentam enurese noturna (faz xixi na cama), tropeçam e caiem com freqüência, geralmente têm o hábito de chupar o dedo, chupetas, ou até própria língua, ou ainda, roem as unhas.
Os respiradores bucais roncam e babam a noite; tem a sensação de boca seca ao acordar; tem um menor rendimento físico; apresentam diminuição do olfato e paladar; gengivas hipertrofiadas (tamanho aumentado); olheiras; lábios hipotônicos (moles); nariz geralmente entupido; língua muito flácida e anteriorizada; não conseguem fechar a boca; têm assimetrias faciais; deglutição atípica; respiração ruidosa; mastigação ruidosa e a cabeça mal posicionada. Ficam sempre com uma aparência de estarem tristes.
O tratamento da respiração bucal será mais bem sucedido quanto mais cedo se intervir, pois assim podemos evitar que alguns hábitos e deformidades que ainda não se desenvolveram comecem a aparecer.
Além de remover a causa direta da respiração bucal, o paciente deve ser submetido a uma reeducação da respiração e a readaptação da musculatura, para que o problema não persista como um hábito residual.
Devem ser feitos exercícios para fortalecer toda a musculatura da boca e face objetivando o vedamento labial, além de exercícios que tonifiquem os músculos. Em geral esses pacientes também apresentam deglutição atípica e posicionamento lingual e labial incorretos, assim torna-se evidente a necessidade de reeducação da deglutição e exercícios de dicção também podem ser requisitados.
Concomitante a readaptação muscular, o tratamento ortodôntico e/ou ortopédico deve ser realizado a fim de corrigir os problemas de oclusão presentes.
Assim o tratamento da síndrome da respiração bucal envolve profissionais de diversas áreas: Médico/Otorrinolaringologista – que realiza o diagnóstico e tratamento das alterações nasofaríngicas; o Ortodontista/Odontopediatra – que faz o acompanhamento do desenvolvimento crânio-facial e dentário, correção das alterações do crescimento ósseo dos maxilares e mal posicionamento dentário; o fonoaudiólogo – que trabalha a função muscular, reeducando as diversas funções dos lábios e língua, deglutição e fala; o fisioterapeuta - que corrige os distúrbios posturais; o psicólogo e psicopedagogo para corrigir as alterações comportamentais da criança tanto na escola quanto em casa com a família e amigos.
Como podemos notar a Síndrome da Respiração bucal pode causar danos para uma vida toda, portanto, não deve ser ignorada. Os pais devem estar sempre atentos. Observar seu filho quando ele estiver dormindo, brincando... Quanto mais cedo é detectada a alteração respiratória, melhor e mais rápido é o tratamento.
*Texto Adaptado da coluna - Orientando o paciente - Site APCD